domingo, 24 de maio de 2009

João Bosco

e sou excomungada. Reapropriando-me de termo bíblico - e, por tal, pecando (não usai o Santo Nome em vão) -, graças a Deus (!), ainda há quem condene sem julgamento, excomungue e mande para a cadeira elétrica aqueles que assassinam a música brasileira. Somos minoria, mas ainda existimos (palmas fracas, mas orgulhosas).
No entanto, depois da invenção da Roda, as coisas têm se atropelado de maneira tal que o lixo está caminhando pelas ruas, nos ônibus, nas praças, e, da poluição sonora, é quase impossível distingüir (com trema, porque eu sou teimosa) o A do Z, o norte do sul, o batidão do samba-canção (e, nesse último, se entreolham perguntando: ela está mesmo falando de cuecas?).
Enquanto isso, são as obras primas que vão pelo esgoto. E, no meio de toda essa ladainha, soltei: e o João Bosco? Fuzilaram-me. Mil olhos no pelotão. Sem brincadeira. Até os que nem participavam da conversa, voltaram as atenções a mim, no intuito de me ver dar o último suspiro, e deixá-los continuarem as vidas em paz, sem nunca mais ouvir tanta besteira.


Chorameliga

Gente. Não era desse João Bosco que eu estava falando! E pra explicar? Não, quem é excomungado é excomungado sem julgamento, lembra? Devo pagar, então, porque o nosso júri não pensou em João Bosco de Freitas Mucci.
Ele, que completa 63 anos agora, em julho, mais de vinte anos de carreira, mais de vinte discos gravados, autor do clássico O Bêbado e o Equilibrista, que já foi notícia no jornal O Pasquim, que compôs com Vinícius de Moraes, Aldir Blanc, que foi gravado por Elis Regina...

Esse João Bosco.

Ficou pra depois. É, com a invenção da roda, os universitários sertanejos chegaram e roubaram o nome do João Bosco assim, na maior cara de pau. E não só dele, né?
Vinícius
era usado pelo próprio de Moraes, quando em parceria com Toquinho. Toquinho e Vinícius. João Bosco e Vinícius. Não foi à toa que, quando me perguntaram se eu gostava da mais nova revelação do sertanejo universitário, eu fiquei confusa e cocei a cabeça. Mas, espera. João Bosco? Você tem certeza?
Não duvido que esse tal joãoboscozinho aí tenha sido batizado em homenagem ao de Freitas Mucci, que já tinha trinta e cinco anos e sete discos gravados quando o outro veio ao mundo.
Não me enganam. Sei que tem um monte de João no mundo. Mas, Bosco, eu não conheço muitos não.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Hoje, tive que

fumar um cigarro. Já é de minha consciência a urgência com que isso deve ser abolido de minha vida. Mas, hoje, tive que.
E constatei, depois de economizar a coca no pão-de-queijo para tê-la com o Marlboro Light, que o cigarro faz a coca ficar com gosto de detergente. Mas fumar me dá sede. E matei os 290ml.

Não é que, depois de ontem, falando sobre caminhar à sombra e não ser vista, aquela coisa bem
eu-gosto-tanto-de-você-que-até-prefiro-esconder-deixo-assim-ficar-
subentendido-como-uma-idéia-que-existe-na-cabeça-e-não-tem-
a-menor-pretensão-de-acontecer * hoje, literalmente, caminhei à sombra e não fui vista?

Sabia da possibilidade, mas não era muito provável. Seria muita coindicência, sabe? Pois é, passei em frente ao local onde trabalhas, mas já havia passado do horário (uns vinte e sete minutos). Nunca tinha reparado, mas faz parte da rota do ônibus que pego de vez em quando, o de hoje. Desci um pouco mais à frente e eis que vejo a linha de transporte urbano que eu sabia que podia estar lá. E estava. No último banco, à esquerda. Eu do outro lado, na rua, olhando pela janela. Não me viu.

Atravessei a rua e segui meu rumo. Foi só. Não vi mais. Andei até meus objetivos e depois sobrou-me um tempinho. Parei no bar onde tantas vezes me esperou. Pedi coca e pão-de-queijo. Depois, eu sabia. Tinha que fumar um cigarro.

(tenho tantos medos, mas isso fica pra depois. e mais: regredi cinco anos em três)

* SANTOS, Lulu - Apenas Mais Uma de Amor

terça-feira, 12 de maio de 2009

Still, you don't regret a single day


Queria dividir contigo o peso do teu fardo, só pra poder andar do teu lado. Te aliviar. Mas você não me vê. Sabia que o teu sorriso me ilumina? Acabei delegando-te o poder de fazer minha alma chorar contigo quando te escapa uma lágrima. É, tens governado o meu estado de espírito, conforme o teu. Mas você não me vê.
Tudo por essa minha necessidade obsoleta de te acompanhar, como não fiz quando pude. Então caminho, à sombra, em silêncio. Como se minha observância anônima pudesse fazer com que te sentisses cuidada. Seria esse o meu papel, e é coisa a que, acho que, não estás acostumada. Mas você não me vê.
Teus sorrisos têm se apagado. Não são mais verdadeiros como já, um dia. E esse olhar de desprezo que não é teu? Me preocupa. Não há nada para ser provado! Penso, então, em desistir. Que na tua vida já não há lugar pra mim, ocupado agora pelos fios-de-rosto e boinas de arrogância.
Devo deixá-la, mas quando lembro da pele. A pele. Espero sete dias mais.
Agora deve estar dormindo. Receba o meu abraço, e tenha bons sonhos.


Há de surgir uma estrela no céu cada vez que 'ocê sorrir. Há de apagar uma estrela do céu cada vez que 'ocê chorar. O contrário também (bem que) pode acontecer - de uma estrela brilhar quando a lágrima cair. Ou então, de uma estrela cadente se jogar só pra ver a flor do seu sorriso se abrir*.


* GIL, Gilberto - Estrela

domingo, 3 de maio de 2009

Last-Night's Gig

I've got a gig tonight (should be excited) and I'm so like tearing down!


Tenho que parar com essa mania de enganar solidão, disfarçar vazio. O domingo sempre chega, não adianta. Odeio minhas fraquezas!

Mas tenho plena consciência de que é uma escolha minha. E, pensando bem, eu prefiro isso a mediocridade. O estar por estar. Quero é fogo, mas às vezes (me) queimo demais. Ainda assim, prefiro comentar as minhas relações frustradas com um senhor de 52 anos que conheci no bar e quer, de mim, a juventude de volta (ou apenas uma noite), a dormir querendo enforcar a pessoa que me abraça, porque de tanto conviver perdeu a graça e me irrita o jeito como respira na minha nuca, e o roçar inevitável dos pêlos da barba na minha pele descoberta.

No final, estamos todos tão sós que nos prendemos só pra não ter como respirar - e notar. Eu respiro e tusso once in a while, mas estou sempre nas nuvens. E se enxergo coisas que nem todo mundo vê, e sei o quanto nada disso vale a pena porque somos todos habitantes passageiros que nada deixam, nada levam é porque, somehow, das nuvens eu nunca devia ter saído. Mas fui respirar lá fora e sei toda a verdade.

Dói e eu reclamo, mas, no fundo, amo toda essa confusão.