quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Tenho reclamado do frio, mas nessa cidade faz o típico calor de dezembro. Não em mim. A verdade é que meu tato repara e reclama quando tua ausência.
Se eu pudesse comparar, seria de frio a sensação da qual toda a extensão da minha pele padece quando se abstém do deleite do teu toque. De se arrepiar e se ouriçar inteira quando me procuras. Meu estômago se revira quando pressente a tua vinda.
Já abandonei a razão faz tempo, nem ouvi tocar o alarme de perigo. Lembro-me bem, ma belle, quando, entre um cigarro e outros mil, decidimos fazer o que deveria ser feito. Mas não sei qual foi o ponto onde não conseguimos mais evitar.
O que sei é que eu jamais esperava encontrar em você (logo você?) tamanho conforto e abrigo, braços nos quais eu posso me refugiar. A parte da tempestade eu já conhecia, mas quem diria que, um dia, fossem a mim direcionados os trovões e os carinhos?
E, a cada dia, mais me sinto precisar disso tudo. Isso é apavorante! O meu maior medo é perder o que antes não me fazia falta, mas que agora é combustível pra cada batida do meu coração.
Não tenho dúvida nenhuma. Quero tuas risadas de quadradinhos metálicos, tua opinião, teu sossego, tua loucura, tua vivacidade, tuas músicas, tuas ligações, nossos pequenos planos.
Quero você. Pra mim. E sem demora!

Pois é, esse samba é pra você, ó, meu amor. Esse samba é pra você que me fez sorrir, que me fez chorar, que me fez sonhar, que me fez feliz, que me fez amar.
Pois é, esse samba é pra você, ó, meu amor. Esse samba é pra você, pra você sorrir, pra você chorar, pra você sonhar, pra você feliz, pra você amar.
(ELLER, Cássia. Nós. São Paulo: Acústico MTV, 2001)

domingo, 15 de novembro de 2009

Eu tenho um vício

que pode-se chamar de pai de todos os outros, soberano perto do álcool, do cigarro, da pirofagia. Meu vício não me esquece. Ele me encontra e me possui noite adentro, dia afora. Quando algum estrondo qualquer me chama de volta à realidade. Onde eu estive? A olhar pela janela enquanto a banda passa. Presa à minha cama, aos meus cinco minutinhos mais. Prostrada ao teto, lembrando, inventando, desejando, e esperando. Dessas criaturas que não saem da tela, de peles que têm escamas.
É assim que me componho: de pele quente e saudade. Mas já me acostumei às paredes frias do banheiro, que o meu lugar é na fila. Eu sou aquela que pode ficar pra depois, que não tem nada importante a dizer. Que não reclama, não acrescenta. Fui feita pras horas vagas, quando não estiver chovendo e você quiser me visitar, no meio da noite, quem sabe. Eu sou uma viciada, já mencionei?
Meu vício é tão forte que me seca os olhos, que me faz distante. Não penso em recuperação. Não sei o que é uma crise de abstinência, pois nunca passei um segundo sóbria. Eu bebo, eu fumo, eu como, eu ouço, eu durmo. Esse é o meu lugar, nem agora nem depois. Eu quero mais cinco minutos porque eu sei. Acaba sem demora. E, antes mesmo de acabar, eu já sinto o quanto vou sentir da lembrança do que agora se grava. Não é melhor que ontem, mas também, não é pior que amanhã. Se ele chegar. Vejo meus olhos secos se inundarem de terra e acho que finalmente não tenho mais tempo. Pra nada. Nem mais cinco minutinhos.
Meu vício, amigo, é esse se não te ficou bem claro. Estou deitada e já fechei os olhos. A terra incomoda, mas estou deitada e já fechei os olhos. Agora não parece tão mal. Melhor que ir lá pra fora e ser pior. Não consigo, sou viciada, me entenda. É cômodo aqui pra mim, eu fico. Quantos cinco minutinhos a mais eu puder. Sou viciada em conforto. Sou filha da preguiça. Tenho sono e só volto quando o vento me aqui trouxer. Até lá, o quê? A banda? Já vi. Já se passaram tantos carnavais. E eu aqui.

sábado, 12 de setembro de 2009

Agora eu vou cantar pros miseráveis

que vagam pelo mundo derrotados. Dessas sementes mal plantadas, que já nascem com cara de abortadas.


Andei cantando essa música. Pro vento, a refleti um pouco (se é que é possível refletir pouco, médio ou bastante, como se houvesse quantidade de reflexão). Mas engraçado que isso é coisa que se diz pra espelho. Refleti, mas não me enxerguei no meu espelho.

Pra pessoas de alma bem pequena, remoendo pequenos problemas, querendo sempre aquilo que não têm.

O sujo falando do mal-lavado. Fez tanto sentido quando a quis direcionar a tantas outras pessoas!

Pra quem vê a luz, mas não ilumina suas mini-certezas. Vive contando dinheiro, e não muda quando é lua-cheia.

E sou eu aqui! Eu não quis enxergar. Penso tanto em qualidade de vida, e a adio todo santo dia. É a única rotina que me disponho a cumprir: por não ser pré-estabelecida. Não anoto na minha listinha de to do things que preciso adiar mais umas horas, chegar atrasada de novo, perder mais um compromisso.

Pra quem não sabe amar. Fica esperando alguém que caiba no seu sonho. Como varizes que vão aumentando, como insetos em volta da lâmpada.

Fico aqui na minha sujeira, pensando em quanto seria bom ter o quarto e a vida limpa. Resolveria tudo. Amanhã, então...

Vamos pedir piedade, pois há um incêndio sobre a chuva rala. Somos iguais em desgraça, vamos cantar o Blues da Piedade.
Vamos pedir piedade? Senhor, Piedade! Pra essa gente careta e covarde.
Vamos pedir piedade! Senhor, Piedade! Lhes dê grandeza, e um pouco de coragem!

* CAZUZA, Blues da Piedade

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Por que me olha assim?

Só porque fumo no escuro, com essa cara de fim de dia? Te incomoda eu empretear meus pulmões, ou sujar minha calça porque sento no chão? Tremo. Mas não de medo, de frio. Agora não parecemos tão diferentes assim, não acha?
Que culpa tenho eu, se as grades estão fechadas, mas a luz está acesa lá dentro? Olho e desejo tudo que tem nessa loja, e - pasmem! - daqui, não vejo nem vulto de alma humana.



P.S.: Oi, ganhei um selo da Luciana!

Apesar de não me achar merecedora, muito lhe agradeço por ter se lembrado de mim e desse jogado às moscas blog. Agora, eu deveria repassá-lo a dez blogs que eu adore, mas os que eu escolheria, já foram, merecidamente, premiados!
A segunda parte, que na verdade era a primeira, mas eu deixei pro final, é dizer cinco coisas que eu gosto de fazer. São elas, não necessariamente nesta ordem:

1. Gastar horas na internet (não sei mais nem se é questão de gosto, vício, ou hábito);
2. Flertar;
3. Beber cerveja (salvo em dias muito frios);
4. Assistir filme;
5. Tocar violão.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

E quem é que não anda insatisfeito

depois de acordar e perceber que o edredon só faz sentido em dias frios, e ter que aceitar que não se pode controlar nem imaginar quando vai ficar quente no meio da madrugada e você vai acordar suando com o edredon que te sufocou? Pior ainda é cobertor, que dá alergia em pessoas medíocres como eu, e pode ser o início de uma longa discussão que deixa uma ferida aberta e que, sabe-se lá se um dia vai fechar, e quando vamos parar de dramatizar essa situação que só um minimalista convicto, sem erva, sem pó, nem tv a cabo é capaz de pensar. Mas insatisfação mesmo é quando você se vê no espelho, falando com propriedade, levantando bandeira e batendo no peito por se perceber parte de uma parte da população, que, assim como você, empelota quando come manga.
Não vou surpreendê-los, mas escrevo hoje não para dizer o quanto é mais fácil encontrar infelizes alérgicos a lúpulo que pessoas que nunca pensaram na coisa toda da insatisfação como qualidade primária, essencial para o desenvolvimento humano. Também não vou falar de intolerância alimentar.

- A vida não é uma decepção?
- Sim, ela é. - respondeu sorrindo.

Iniciando o cumprimento de minhas ambiciosas metas de vida, esse é o primeiro da série de posts que farei para estudo. Tenho um mês, portanto, torçam por mim. Da lista de seis filmes, já vi Hiroshima, meu amor (o qual terei que assistir novamente, pois cheguei a cochilar em algumas partes), e, agora Santiago, de 2007, escrito e dirigido por João Moreira Salles (é, o irmão do Walter Salles). Entenda aqui.
Vamos lá. Literalmente cinema-arte, eu diria. Uma fotografia linda, uma linguagem diferente, mas não consegui me envolver com a história. Pra ser bem sincera, eu só me via, de fato, conseguindo tirar algum proveito do documentário quando o narrador interrompia Santiago, o mordomo, mostrando o lado obscuro da produção, ou mesmo contando alguma história na visão de João, quando deixava de ser o documentarista para ser o filho da família rica brasileira, que dava festas luxuosas e tinha um mordomo erudito e sofisticado. Sofisticação tanta que tocava castanholas em músicas (aqui, gostei da generalização usada no texto) que não eram espanholas, e escrevia uma espécie de enciclopédia sobre famílias nobres, artistas, e o que mais ele julgasse importante. Tudo devidamente guardado e catalogado, anos depois, no apartamento onde moraria sozinho, no Leblon.


Tudo isso eu entendi. Claro, quem me contou foi o narrador. É. Porque quando o pobre velhinho abria a boca para começar a contar suas encantadoras histórias, minha mente, simplesmente, dispersava - e não é por mal, isso é coisa difícil de controlar. Sei que posso estar parecendo cruel e ignorante, mas nosso ilustre personagem é um argentino, e, para mim, que não domino o idioma espanhol, além do plano parado, distante e preto e branco, havia uma barreira lingüística me impedindo de prestar atenção.

Cinqüenta e sete minutos (hipérbole, nós te amamos) assim, a cena parada, o senhorzinho contando uma história que eu não conseguia entender... Se há muita estética e não tanta preocupação com o enredo (afinal, a história do filme não era mais o mordomo, e sim o filme que iam fazer sobre ele, e não fizeram), alguns recursos merecem destaque, como o texto e a montagem em si. E também, algo que os editores mais desavisados (ou petulantes mesmo, que têm preguiça de ler e descobrir a merda do Adobe Premiere), chamam de Fade. Fade é quando a imagem some ou aparece gradativamente, sendo dissolvida na tela, que não é o que vou falar em seguida. Mania de brasileiro, de usar o termo errado.
Chamam de fade quando você deixa um espacinho na linha do tempo, e, sem perceber exporta o arquivo, deixando uma parte "em branco", que, na verdade, fica preto quando você vai assistir. O diretor usou esse recurso para, em algumas partes, deixar apenas o áudio ambiente, ou um off, dando aquela impressão de, no primeiro caso: estou lá, participando da produção do filme, ou, no segundo caso: reflitam aí sobre.
E a fotografia? Falei da fotografia. É, cinema-arte. Planos parados, horas e horas... Aí Santiago resolveu mostrar a dança das mãos. Tomem cuidado com essa parte.

Não vejo como ela possa ter alguma relevância no todo (assim como as milhões de histórias que eu não entendi), mas me chamou a atenção e foi uma cena que me marcou, no filme. Talvez, por ser demorada. Fica legal quando a música dá uma animada, depois, chega!
Como deu pra perceber, após muita enrolação, Salles nos mostra de onde tirou a inspiração para os geniais enquadramentos que havia adotado em 1992: "Viagem a Tóquio", filme de Yasujiro Ozu (quem?). A semelhância é atrevida e até cara-de-pau. Ele não esconde. É de um trecho desse filme que veio o mais bonito diálogo, que coloquei aqui no começo, valorizado, claro, pelo texto e narração de Santiago:
- A vida não é uma decepção?
- Sim, ela é.
Aqui poderia ter havido o discurso sobre insatisfação. Eu o vi, ensaiado, nas entrelinhas. Não porque vejo insatisfação em tudo, mas porque ela está em tudo.

João Moreira Salles encerra o filme sem medo de expôr o que muitos podem ter considerado cruel: a vida sendo tratada como produto industrial. Quando Santiago vai contar uma história e se refere a ele como "Joãozinho", Salles pede para que ele pare, e grave de novo. Sem "Joãozinho".

domingo, 16 de agosto de 2009

O Estopim


Bateu. Via a lua tocar o horizonte, no mar. As folhas das árvores entre cá e lá pareciam formar a sombra de uma mulher sentada, nua. Divertia-se sozinha tentando imitar a pose da mulher tão ensimesmada, tão absorta, refletida na luz lograda pela lua. Cogitou abordar a moça pra tirá-la do sério, e riu alto ao perceber que a água estaria muito gelada, e seria impossível chegar até lá. Foi ao ver a crescente dança das águas que percebeu o vento forte os mandando ir pra casa. Frio.

Seu menino fez menção de abraçá-la, à que logo foi rejeitado. Melhor ir embora, ela disse. Dirigiu ouvindo que ainda era cedo, vem comigo, vamos ver as estrelas mais um pouco, pode até ser na tevê. Ela pensava mais rápido do que podia falar, e mais ainda do que podia ouvir. Os argumentos não cessaram (pra quê olhá-la nos olhos?), muito menos os pensamentos. Que na cabeça estavam os outros amores, e como cada um deles (principalmente delas) conseguiu levar consigo uma parte - e não era do coração, era do sorriso - que não devolviam nunca mais.

Beijou-o com orgulho ao perceber que, mesmo ainda sentindo por cada um que lhe arrancou uma história, não queria estar beijando nenhuma outra pessoa no mundo inteiro naquele momento, nem se pudesse escolher, nem se tivesse fila. Sentia-se bem, só isso.

No entanto, até das certezas ela duvidava: sabia também que, pelos mesmos dedos que então exploravam aqueles fios de cabelo cacheado, o dono da cabeça logo iria escorregar feito água. Mais um a menos. As pessoas se cansam. Já nem sabia mais se era segredo ou não, mas, de fato, além dos pedaços do sorriso, tiraram dela, também, a capacidade de se importar com isso.

Elconsorte mal bateu a porta do carro, e ela acelerou. Colocou um chiclete novo na boca e acelerou, apática e vazia.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Eu até queria que você soubesse

O que, pra você, pode ser que não seja, ainda, uma novidade. Não importa. Mas é que, dessa vez, foi diferente.
Lembrei foi do sorriso - imagem que, há tempos, não me assombrava. Digo porque lembro sempre um pouco por dia, e com o passar dos dias, andava lembrando cada vez menos. Achei que seria natural até não lembrar mais - o que já deve ter acontecido, dia ou outro. Até que.
Do sorriso que erguia o nariz, com a cabeça levemente inclinada, com o olhar doze-anos-que-bobagem. E às vezes ríamos e me encostava a testa, o nariz franzido. Era tão verdadeiro, ou tão bem forjado! Ah, meu coração, voz de Sessão da Tarde.
Também franzia o nariz pra coçar de um jeito esquisito. Era a fraqueza. Encostava o polegar no mindinho, e os outros três, esticados e juntos. Virava-se pro lado, para que ninguém visse - igual quando ia fumar, tentando se esconder. Era minha parte favorita. Coçava a ponta do nariz, com os olhinhos já também meio fechados, escondida.
Era a fraqueza, era a verdade. Era o momento em que deixava de se fazer a super mulher para ser ela mesma - uma garotinha que, como qualquer outra, sentia coceira no nariz.


Saudade.

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Ela não gosta de samba

mas quando me olha, assim, nos olhos, nem precisa mais de música. Ah, eu queria ver aqueles olhos brilhantes de novo, podia ser assim, de lado, que eu amava também os cílios, sem problemas, que o meu adeus foi com beijo na mão. E o logo que ainda não chegou? Eu realmente pareço, assim, uma ameaça pra ti?
Queria voltar a Barcelona.

terça-feira, 16 de junho de 2009

"Eu não sou, assim, muito certa com essas coisas"

foi o que eu disse! HAHAHA, grunhiu. Ao que, logo, foi correspondida com mais grunhidos, que se uniram e se motivavam um ao outro, cada vez mais alto, mais alto, mais feliz, mais estridente, mais despreocupado, mais verdadeiro, mais ruidoso, formando um grande estertor, que com pulmão não se brinca. Talvez, os entorpecentes. Só se sabe que riam de bater o punho na madeira, de lacrimejar incessante. Pela liberdade de rir de si mesmo (e sê-lo tão engraçado).
Vários minutos de até esquecer o assunto, mas a dor abdominal lembrou que deveriam recuperar o fôlego (tinha que largar o café).
- E sabe o que é pior? - fez-se entender após algumas tentativas. Pequenas doses de risos segmentados guardando o melhor para o final.
- O quê?
- É que funcionou!

domingo, 24 de maio de 2009

João Bosco

e sou excomungada. Reapropriando-me de termo bíblico - e, por tal, pecando (não usai o Santo Nome em vão) -, graças a Deus (!), ainda há quem condene sem julgamento, excomungue e mande para a cadeira elétrica aqueles que assassinam a música brasileira. Somos minoria, mas ainda existimos (palmas fracas, mas orgulhosas).
No entanto, depois da invenção da Roda, as coisas têm se atropelado de maneira tal que o lixo está caminhando pelas ruas, nos ônibus, nas praças, e, da poluição sonora, é quase impossível distingüir (com trema, porque eu sou teimosa) o A do Z, o norte do sul, o batidão do samba-canção (e, nesse último, se entreolham perguntando: ela está mesmo falando de cuecas?).
Enquanto isso, são as obras primas que vão pelo esgoto. E, no meio de toda essa ladainha, soltei: e o João Bosco? Fuzilaram-me. Mil olhos no pelotão. Sem brincadeira. Até os que nem participavam da conversa, voltaram as atenções a mim, no intuito de me ver dar o último suspiro, e deixá-los continuarem as vidas em paz, sem nunca mais ouvir tanta besteira.


Chorameliga

Gente. Não era desse João Bosco que eu estava falando! E pra explicar? Não, quem é excomungado é excomungado sem julgamento, lembra? Devo pagar, então, porque o nosso júri não pensou em João Bosco de Freitas Mucci.
Ele, que completa 63 anos agora, em julho, mais de vinte anos de carreira, mais de vinte discos gravados, autor do clássico O Bêbado e o Equilibrista, que já foi notícia no jornal O Pasquim, que compôs com Vinícius de Moraes, Aldir Blanc, que foi gravado por Elis Regina...

Esse João Bosco.

Ficou pra depois. É, com a invenção da roda, os universitários sertanejos chegaram e roubaram o nome do João Bosco assim, na maior cara de pau. E não só dele, né?
Vinícius
era usado pelo próprio de Moraes, quando em parceria com Toquinho. Toquinho e Vinícius. João Bosco e Vinícius. Não foi à toa que, quando me perguntaram se eu gostava da mais nova revelação do sertanejo universitário, eu fiquei confusa e cocei a cabeça. Mas, espera. João Bosco? Você tem certeza?
Não duvido que esse tal joãoboscozinho aí tenha sido batizado em homenagem ao de Freitas Mucci, que já tinha trinta e cinco anos e sete discos gravados quando o outro veio ao mundo.
Não me enganam. Sei que tem um monte de João no mundo. Mas, Bosco, eu não conheço muitos não.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Hoje, tive que

fumar um cigarro. Já é de minha consciência a urgência com que isso deve ser abolido de minha vida. Mas, hoje, tive que.
E constatei, depois de economizar a coca no pão-de-queijo para tê-la com o Marlboro Light, que o cigarro faz a coca ficar com gosto de detergente. Mas fumar me dá sede. E matei os 290ml.

Não é que, depois de ontem, falando sobre caminhar à sombra e não ser vista, aquela coisa bem
eu-gosto-tanto-de-você-que-até-prefiro-esconder-deixo-assim-ficar-
subentendido-como-uma-idéia-que-existe-na-cabeça-e-não-tem-
a-menor-pretensão-de-acontecer * hoje, literalmente, caminhei à sombra e não fui vista?

Sabia da possibilidade, mas não era muito provável. Seria muita coindicência, sabe? Pois é, passei em frente ao local onde trabalhas, mas já havia passado do horário (uns vinte e sete minutos). Nunca tinha reparado, mas faz parte da rota do ônibus que pego de vez em quando, o de hoje. Desci um pouco mais à frente e eis que vejo a linha de transporte urbano que eu sabia que podia estar lá. E estava. No último banco, à esquerda. Eu do outro lado, na rua, olhando pela janela. Não me viu.

Atravessei a rua e segui meu rumo. Foi só. Não vi mais. Andei até meus objetivos e depois sobrou-me um tempinho. Parei no bar onde tantas vezes me esperou. Pedi coca e pão-de-queijo. Depois, eu sabia. Tinha que fumar um cigarro.

(tenho tantos medos, mas isso fica pra depois. e mais: regredi cinco anos em três)

* SANTOS, Lulu - Apenas Mais Uma de Amor

terça-feira, 12 de maio de 2009

Still, you don't regret a single day


Queria dividir contigo o peso do teu fardo, só pra poder andar do teu lado. Te aliviar. Mas você não me vê. Sabia que o teu sorriso me ilumina? Acabei delegando-te o poder de fazer minha alma chorar contigo quando te escapa uma lágrima. É, tens governado o meu estado de espírito, conforme o teu. Mas você não me vê.
Tudo por essa minha necessidade obsoleta de te acompanhar, como não fiz quando pude. Então caminho, à sombra, em silêncio. Como se minha observância anônima pudesse fazer com que te sentisses cuidada. Seria esse o meu papel, e é coisa a que, acho que, não estás acostumada. Mas você não me vê.
Teus sorrisos têm se apagado. Não são mais verdadeiros como já, um dia. E esse olhar de desprezo que não é teu? Me preocupa. Não há nada para ser provado! Penso, então, em desistir. Que na tua vida já não há lugar pra mim, ocupado agora pelos fios-de-rosto e boinas de arrogância.
Devo deixá-la, mas quando lembro da pele. A pele. Espero sete dias mais.
Agora deve estar dormindo. Receba o meu abraço, e tenha bons sonhos.


Há de surgir uma estrela no céu cada vez que 'ocê sorrir. Há de apagar uma estrela do céu cada vez que 'ocê chorar. O contrário também (bem que) pode acontecer - de uma estrela brilhar quando a lágrima cair. Ou então, de uma estrela cadente se jogar só pra ver a flor do seu sorriso se abrir*.


* GIL, Gilberto - Estrela

domingo, 3 de maio de 2009

Last-Night's Gig

I've got a gig tonight (should be excited) and I'm so like tearing down!


Tenho que parar com essa mania de enganar solidão, disfarçar vazio. O domingo sempre chega, não adianta. Odeio minhas fraquezas!

Mas tenho plena consciência de que é uma escolha minha. E, pensando bem, eu prefiro isso a mediocridade. O estar por estar. Quero é fogo, mas às vezes (me) queimo demais. Ainda assim, prefiro comentar as minhas relações frustradas com um senhor de 52 anos que conheci no bar e quer, de mim, a juventude de volta (ou apenas uma noite), a dormir querendo enforcar a pessoa que me abraça, porque de tanto conviver perdeu a graça e me irrita o jeito como respira na minha nuca, e o roçar inevitável dos pêlos da barba na minha pele descoberta.

No final, estamos todos tão sós que nos prendemos só pra não ter como respirar - e notar. Eu respiro e tusso once in a while, mas estou sempre nas nuvens. E se enxergo coisas que nem todo mundo vê, e sei o quanto nada disso vale a pena porque somos todos habitantes passageiros que nada deixam, nada levam é porque, somehow, das nuvens eu nunca devia ter saído. Mas fui respirar lá fora e sei toda a verdade.

Dói e eu reclamo, mas, no fundo, amo toda essa confusão.

sábado, 25 de abril de 2009

Tanto querer

Lamentaram as águias (de). Choveram as distorções (de). Aliviaram-se as serpentes (de). Converteu-se o tempo (em). Converteu-se o som (em). Converteu-se o cheiro (em). Converteu-se o chão (em). Converteu-se o mundo (em)

tanto
querer

(traz uma praga, e me afaga a pele*)

* DJAVAN - Samurai

sexta-feira, 10 de abril de 2009

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Jennifer Schecter?

Isso é o que vocês dizem porque não conhecem Maria Elena, que me traduziu, sem saber, em spanglish. Cigarro pró-arte, observações perigosamente sinceras, tentativa de homicídio, tentativa de homicídio duplo, intensidade, dependência, verdade, paranóias, paranóias, paranóias.
Fiquei escandalizada quando Cristina a deixou. Mas, em seu lugar, será que eu não faria o mesmo? Pensei: não se o Juan Antonio fosse o Gael.
Logo, francamente concluí: é por isso que não sou a Cristina.



Esta niña nunca le va bastar con nada. Como lo sabia! Como lo sabia! Chronic dissatisfaction, that's what you have. Chronic dissatisfaction.
Big sickness. Big sickness. *

* ALLEN, Woody - Vicky, Cristina, Barcelona