Como eu, que sou toda à flor da pele, poderia me esquecer? Eu estava lá, me entende? Não só soube, não só vi o troféu.
Eu estava lá quando ela saiu ajeitando os cabelos, fechando o zíper. Nem precisaria perguntar, a cara de criança que acabou de aprontar uma bobagem já me contava até muito mais do que minha curiosidade ousaria querer saber. É claro que, pra ela, não bastou.
Veio-me com aquele sorriso cúmplice e perverso, procurando em mim uma confidente e uma fracassada a quem pudesse se gabar. Ou algo do gênero, porque, pra mim, qualquer esforço vindo dela seria em vão; desde sempre a vi como uma patética (existe definição mais pesada que "patética"?) tentando imitar alguma coisa.
E, com uma frase simples, declarou minha sentença: daquela noite, eu não iria esquecer tão cedo.
As menos de três palavras que me confirmaram o que eu já sabia me fizeram enxergar. E eu ainda vejo, me entende? Te vejo com ela, naquela noite. Tuas pupilas dilatadas enquanto era a ela que você via. Enquanto sussura no ouvido dela, respira no pescoço dela, mordendo, sugando, chupando, comendo - ai, meu Deus, como me dói!
Três palavras, um sorrisinho e se levantou. Foi até a pia e lavou a boca. Tratou a água como se fosse um desinfetante. E saiu, pateticamente exultante, de encontro ao oficial. Beijou-lhe no rosto, tentando disfarçar com os olhos arregalados de sempre e leves tropeços no seu caminhar torto.
E você, seu bosta? Saiu pouco depois, sozinho, escondido como um rato que foge sorrateiramente do esgoto para que ninguém o descubra. Podia nem gritar sobre a vitória recente da liberdade e do ar puro que encontrara nas ruas da cidade, pra não chamar a atenção e ser esmagado. E, assim, você saiu. Passou por mim, e nem me viu.
Não é fácil esquecer. O que você ficou fazendo no meu passado todo esse tempo em que te fui invisível? Suma, sabe? Suma de lá, nasça agora, nunca tenha existido sem mim. Suma do meu passado, venha para o meu presente e fique para o meu futuro.
Eu estava lá quando ela saiu ajeitando os cabelos, fechando o zíper. Nem precisaria perguntar, a cara de criança que acabou de aprontar uma bobagem já me contava até muito mais do que minha curiosidade ousaria querer saber. É claro que, pra ela, não bastou.
Veio-me com aquele sorriso cúmplice e perverso, procurando em mim uma confidente e uma fracassada a quem pudesse se gabar. Ou algo do gênero, porque, pra mim, qualquer esforço vindo dela seria em vão; desde sempre a vi como uma patética (existe definição mais pesada que "patética"?) tentando imitar alguma coisa.
E, com uma frase simples, declarou minha sentença: daquela noite, eu não iria esquecer tão cedo.
As menos de três palavras que me confirmaram o que eu já sabia me fizeram enxergar. E eu ainda vejo, me entende? Te vejo com ela, naquela noite. Tuas pupilas dilatadas enquanto era a ela que você via. Enquanto sussura no ouvido dela, respira no pescoço dela, mordendo, sugando, chupando, comendo - ai, meu Deus, como me dói!
Três palavras, um sorrisinho e se levantou. Foi até a pia e lavou a boca. Tratou a água como se fosse um desinfetante. E saiu, pateticamente exultante, de encontro ao oficial. Beijou-lhe no rosto, tentando disfarçar com os olhos arregalados de sempre e leves tropeços no seu caminhar torto.
E você, seu bosta? Saiu pouco depois, sozinho, escondido como um rato que foge sorrateiramente do esgoto para que ninguém o descubra. Podia nem gritar sobre a vitória recente da liberdade e do ar puro que encontrara nas ruas da cidade, pra não chamar a atenção e ser esmagado. E, assim, você saiu. Passou por mim, e nem me viu.
Não é fácil esquecer. O que você ficou fazendo no meu passado todo esse tempo em que te fui invisível? Suma, sabe? Suma de lá, nasça agora, nunca tenha existido sem mim. Suma do meu passado, venha para o meu presente e fique para o meu futuro.
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