Conforme o combinado, não começaríamos este drama falando sobre o tempo. No entanto, logo percebemos que inventamos as regras para podermos quebrá-las sem culpa. Pois bem. Adiantamos logo no primeiro parágrafo: frio.
Frio para que imaginem nossos interlocutores com casacos forradinhos e cachecol. Não, casacos forradinhos lembram ternura, e não é esse o sentimento que queremos despertar. Entendam, ela de pulôver cor de vinho gola alta, ele de camisa branca e gravata. Frio, não?
Frio com chuva. Uhum. Calma, controlem suas mentes apressadas que já estão vendo noite, lareira, vinho tinto e vamos fazê-lo aqui no tapete mesmo. Noite, não. Manhã. A chegada repentina da chuva, que assustou nossos protagonistas, de fato, deixou tudo mais charmoso. Foi o que pensaram. Todo esse aconchego, pra não querer estar ali.
No sofá. O temporal cortou temporariamente a eletricidade (poderíamos ser mais óbvios?). Nenhum contato físico. Distância segura. Sentados lado a lado só pra disfarçar a hostilidade, mas um desconforto mútuo e um silêncio constrangedor os separa. É claro que lhes vêm à cabeça o como tudo foi ficar assim, e todas aquelas horas no telefone? Pieguice demais, uma revistinha de palavras cruzadas com uma atividade não terminada em cima da mesinha de centro, um pratinho com alguns farelos de biscoito. Logo as formigas vêm, mas dá medo de se mexer, devaneou a moça. Os ponteiros do relógio andando mais devagar que o normal. O cenário está pronto, atentemo-nos à pouca ação (vinte minutos que pareceriam vinte horas).
Ele fingia ler a Época, ajeitando os oclinhos de fina armação. Na verdade, a espionava. A revista, a gravata, os oclinhos e até a chuva eram desculpas para ficar ali um pouco mais. Já que seria o último dia. Isso foi o melhor que conseguimos na tentativa de criar um clímax.
Decidiu-se enquanto observava. Ela não conseguia esconder a impaciência, pernas balançando, unhas roçando na própria corrente de bolinhas que levava no pescoço causando um barulhinho chato. Ele percebeu tudo. Disse baixinho que a amava. Ela sorriu sem mostrar os dentes, se levantou e foi até a cozinha. De lá, gritou perguntando se ele queria mais biscoitos, mas quem teria fome numa hora dessas?
Só se fosse pra comer você, verbalizou em silêncio. Provocou um toque sutil de mãos quando ela voltou a se sentar. E, nada. Ela não tirava os olhos dos biscoitinhos de fubá que trouxera da cozinha, ele querendo ou não. Você foi longe demais.
Nada doeu mais que a falta de brilho nos olhos. Lembrou-se de quando a pediu em namoro, os corações palpitando e o indiscutível brilho nos olhos. Não restava mais nada, e o barulho da chuva era de chuva qualquer. Quando foi que a perdi?
Deixa pra lá.
- A chuva estiou. Melhor eu ir.
Despediram-se com um selinho gelado e rápido. Foi embora e não voltou mais. Ela nem notou.
Frio para que imaginem nossos interlocutores com casacos forradinhos e cachecol. Não, casacos forradinhos lembram ternura, e não é esse o sentimento que queremos despertar. Entendam, ela de pulôver cor de vinho gola alta, ele de camisa branca e gravata. Frio, não?
Frio com chuva. Uhum. Calma, controlem suas mentes apressadas que já estão vendo noite, lareira, vinho tinto e vamos fazê-lo aqui no tapete mesmo. Noite, não. Manhã. A chegada repentina da chuva, que assustou nossos protagonistas, de fato, deixou tudo mais charmoso. Foi o que pensaram. Todo esse aconchego, pra não querer estar ali.
No sofá. O temporal cortou temporariamente a eletricidade (poderíamos ser mais óbvios?). Nenhum contato físico. Distância segura. Sentados lado a lado só pra disfarçar a hostilidade, mas um desconforto mútuo e um silêncio constrangedor os separa. É claro que lhes vêm à cabeça o como tudo foi ficar assim, e todas aquelas horas no telefone? Pieguice demais, uma revistinha de palavras cruzadas com uma atividade não terminada em cima da mesinha de centro, um pratinho com alguns farelos de biscoito. Logo as formigas vêm, mas dá medo de se mexer, devaneou a moça. Os ponteiros do relógio andando mais devagar que o normal. O cenário está pronto, atentemo-nos à pouca ação (vinte minutos que pareceriam vinte horas).
Ele fingia ler a Época, ajeitando os oclinhos de fina armação. Na verdade, a espionava. A revista, a gravata, os oclinhos e até a chuva eram desculpas para ficar ali um pouco mais. Já que seria o último dia. Isso foi o melhor que conseguimos na tentativa de criar um clímax.
Decidiu-se enquanto observava. Ela não conseguia esconder a impaciência, pernas balançando, unhas roçando na própria corrente de bolinhas que levava no pescoço causando um barulhinho chato. Ele percebeu tudo. Disse baixinho que a amava. Ela sorriu sem mostrar os dentes, se levantou e foi até a cozinha. De lá, gritou perguntando se ele queria mais biscoitos, mas quem teria fome numa hora dessas?
Só se fosse pra comer você, verbalizou em silêncio. Provocou um toque sutil de mãos quando ela voltou a se sentar. E, nada. Ela não tirava os olhos dos biscoitinhos de fubá que trouxera da cozinha, ele querendo ou não. Você foi longe demais.
Nada doeu mais que a falta de brilho nos olhos. Lembrou-se de quando a pediu em namoro, os corações palpitando e o indiscutível brilho nos olhos. Não restava mais nada, e o barulho da chuva era de chuva qualquer. Quando foi que a perdi?
Deixa pra lá.
- A chuva estiou. Melhor eu ir.
Despediram-se com um selinho gelado e rápido. Foi embora e não voltou mais. Ela nem notou.