domingo, 27 de novembro de 2011

A oscilação das minhas emoções me preocupa, mas não sinto falta do meio-termo. Eu teria uma fala longa sobre esse tema, mas há em memória um certo sorriso que não me deixa escrever.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

You, you, you

Tomei um gole de café e lembrei do gole de cigarro. Você.
Antes fosse só nos meus vinte goles de café por dia, mas aconteceu também ao acordar. Você apenas surgiu no meu pensamento, com a mesma falta de referência que me fez acordar sem despertador.
Desde então, você aqui está. Mesmo longe. E espero que fique. Quero te mostrar a cidade.

Saudade.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Ainda é cedo, eu sei, embora houvesse suor também nas tuas mãos, e, ao mesmo tempo, em harmonia, uma palpitação;
bem assim, parece tão certo.

If I told you things I did before
Told you how I used to be
Would you go along with someone like me?

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Se pendeu pr'um lado só,

pode não ser tão ruim.
Tirando esse peso, 
sem dó, 
lhe desejo: 
boa vida sem mim.

sábado, 8 de outubro de 2011

Lamentar, ia

Se fosse a única que,
nesses desencontros da vida,
perfuma-se toda
e almoça sozinha

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Irremovível ou Que parecia irremovível morre mais uma vez


Sinto lhe dizer, mas nosso sonho nos deixou
Foi-se de mãos dadas com as minhas entranhas
e com a minha dignidade

Partiu sem levar meu coração
que bate, com a mesma frieza que bate o relógio
e os passos dos que têm pressa

Um'hora volta, não é a primeira vez
Mas quem será que volta
Uma nova
Ou uma mal-costurada versão do que se foi
Usada e sem uso
Useless
E inútil
Disposta a morrer







Já é tarde, não vê?
Ainda que volte
voltará sem vontade
de viver

segunda-feira, 21 de março de 2011

Oh, yeah! Hell, yeah! Damn, yeah!

Podem ter sido aquelas luzes piscantes alucinadas, o escuro que saía delas ou o ar carregado de fumaça. Alguns de vocês podem até dizer, com razão, que foi a quantidade absurda de álcool que eu havia ingerido. Também desconfio daquele som violento, que nos chamava de prisioneiros e não deixava ninguém sair da pista. Deve ter sido a mistura disso tudo. Enlouqueci com aquele prazeroso mal-estar. Quando perdia o equilíbrio, me segurava nas paredes. Ou era nas pessoas?

Não sei quantas horas se passaram, pois só guardei um segundo. Um discreto e pequeno sorriso. Um convite. Aceitei.

Tell me what your spirit says, show me what you pray. 
Teach me every single part. I'll be your guide. 
You are a prisoner, looking for to be... 
You can change your face, but can't change your mind. 
No matter what you do.

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Kiddo, She's a Woman Now

Parecia, gesticulava e falava como David Carradine. "Kiddo, she's a woman now". Atrás da voz rasgada e das rugas, havia alguém que sabia o que estava dizendo. Olhava para o horizonte e tragava com vontade o cigarrinho que segurava com o polegar e o indicador.


Kiddo, she's a woman now.


"E você, rapaz, ainda é só um garoto. Um moleque", vociferou o velho. Foi aí que o moleque empunhou a espingarda e atirou, direto nos miolos do velho. Tão experiente, tão sábio, morreu. Estava certo demais e, às vezes, ouvir a verdade, dói.

Texto Antigo e Sem Título

Não é a vaga sensação de perder que tem afundado meus olhos. Não estou competindo por nada pra declarar estado de ganho ou de perda, você sabe bem da minha apreensão a aceitar desafios. Discorri durante horas com você sobre esses conceitos, e você ensaiou me encorajar, me desafiou a aceitar os desafios, mas tão logo percebeu que eu não deveria fazê-lo, de fato. Sou boa perdedora, mas ninguém gosta de perder. E, se a vida já me fez nascer com o dom de perder sempre, pra quê contrariar e insistir em mais pequenos fracassos vãos?
É um pouco desse celular que não toca. É a falta. É a falta. Falta que não supriste com teus discursos calculados, tua estratégia arquitetada para me ter só pra satisfazer teu ego. Falta que não supriste com tua cara de deboche, nem com a tua voz mansa quando a mim direcionada a tua fala.
É um vazio. Vazio que não preencheste com teu hálito me provocando arrepios. Vazio que não preencheste com teus dedos, tuas costas, tua boca, tua nuca. Vazio que não preencheste com teus beliscões de brincadeira de fingir que te atinjo. Vazio que existe a cada partir teu.
Sei que não fui um prêmio muito satisfatório, mas fui teu. Conseguiste o que queria, e, desde então, cada pensamento meu é direcionado a ti. Os bons, os maus, os médios. Fizeste-me voar, mas foi tão pouco. Tão baixo, tão raso, tão superficial. Quando eu acabava de decolar, logo era empurrada pra baixo. De cara no asfalto. De volta à realidade, cinza de pedra.
O vazio coexiste em mim, e eu não o agüento mais. Tem tirado a minha capacidade de sonhar, e esta sempre foi minha maior virtude, senão a única. Não sonho mais. Poderia te desafiar, mas sinto que recusarias não por teres receio, como eu. Sei que adoras um desafio. Se, por ventura, aceitasses, meu desafio seria esse: me faz sonhar pra sempre. Ou, pelo menos, até amanhecer. E que amanhecesse um dia limpo, sereno e livre.
Mas, o recusarias porque já sou teu prêmio, não há porquê fazer mais. Prêmio, não ris? Quando é que me veio essa arrogância de repente? Sou brinde, se muito for. Mas teu. Teu, teu, teu. Enquanto meu, só o vazio, porque, de ti, não tenho nada.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Inescrupulosamente Entre os Cacos de Vidro das Garrafas e o Temporal - pt. II

Podia ter chovido. Podia ter sido em silêncio. Mas não. Saí do pequeno corredor suja, descabelada, molhada, com cheiro de esgoto e em choque. Encontrei a noite mais linda do mundo. As luzes permaneciam coloridas. Os carros continuavam andando devagar, pra contemplar a decoração, pra achar um bom lugar pra ir. Os músicos dos bares ainda estavam cantando as mesmas canções sou-vagabundo-eu-confesso e as pessoas ainda se amontoavam na pequena área para fumantes, segurando o mesmo copo de bebida e sorrindo como se não tivessem problemas. Eu acabei de quase, e ninguém percebeu. O mundo deu de ombros para mim, que me descobri a pessoa mais sozinha nele.
Fiquei na dúvida se ficava apavorada imaginando o-que-poderia-ter-sido ou se agradecia minha sorte por não-ter-sido. Veio-me uma vontade de ligar pra minha mãe.
Tateei os bolsos da calça, e meu celular não estava lá. Procurei no meio da bagunça da minha bolsa, e nada. Olhei o chão em volta. Também não. Ponderei pelo tempo de um instante. Respirei e concluí o que só podia ser: eles levaram. Roubaram o celular. Todo esse medo, todo esse susto, todo esse trauma-que-vou-levar-para-o-resto-da-vida por um celular? Senti-me aliviada. Não foi o fim do mundo, afinal. Foi, talvez, um sinal de que tem algo começando - coisa que eu posso, e vou, começar junto.

Atravessei a rua e entrei numa lojinha de roupas que estava aberta até aquela hora porque era Natal. Comprei um tubinho preto, que eu não tinha costume de usar, calcinha, sutiã e sandália. Paguei e me troquei ali mesmo, no provador da loja. Joguei fora todas as roupas que usava durante o "incidente", pra nunca mais ter por que lembrar. Saí de lá já me sentindo outra pessoa. O que eu mais precisava, depois do susto e das roupas novas? Um bar.
Escolhi aquele mesmo, do músico sou-vagabundo-eu-confesso e da pequena área para fumantes. Mesa pra um, por favor. Eu nunca havia me sentado sozinha na mesa de um bar. A princípio, pensei que receberia alguns olhares de desprezo e alguns de compaixão pela minha situação. Mas não. Recebi fascínio, curiosidade e até inveja. O primeiro gole de cerveja foi bom demais. Senti, ali, a vida acontecendo como sempre aconteceu, mas, pela primeira vez, comigo fazendo parte dela.
Não tardou para que eu me juntasse à ala dos fumantes e conhecesse pessoas interessantes. Conversei com qualquer quantidade de malucos, troquei flertes, contei a história da minha vida e até cantei uma com o músico. Vivi. Vivi com uma intensidade absurda comparada à que eu julgava viver antes.

Acordei já passava das 13h, e, comigo, um mal-estar adolescente: ressaca. Quando consegui abrir os olhos e levantar, fui até a cozinha beber água. Um bilhete.


Tem um mundo inteiro esperando por ti lá fora, e, 
pode parecer piegas, mas eu adoraria fazer parte dele.
M.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Inescrupulosamente Entre os Cacos de Vidro das Garrafas e o Temporal - pt. I

Mal-amada? Você não diria isso se visse o jeito como a sua mulher me olha quando me força e me dobra no cantinho ali no corredor. Olhar que, por você, ela não tem mais, se é que já teve um dia. Cuspiria na sua cara, mas me reservo a expressão rancorosa e enciumada, pois não sei esconder. 
Ela já me pediu: "bota um sorriso nessa cara, eu não te faço feliz?". Sim e não. Responderia: se sou feliz por duas horas do meu dia, quando você me faz sua, passo as outras vinte e duas amargurando a distância que precisamos fingir. Todos os dias, te ver e fingir que não somos nada. Vê-lo se gabar por pensar que é por ele o meu desejo, tão ingênuo, tão irritante.
Eu te busco nos lençóis, no travesseiro, e, quando muito me esforço, até sinto o teu cheiro. Isso se eu não abrir os olhos, pois eu sei que vou enxergar mais uma noite sozinha. Sem você.
Eu só não consigo parar. Digo te entender e tento qualquer coisa por mais um pouquinho de você. Mas a verdade é que, quanto mais você me faz feliz, mais você me faz triste. E esta expressão de mulher rancorosa e mal-amada não combina comigo. Ainda é cedo pra te dizer, mas você logo vai notar que o rancor vai dar lugar à indiferença e a sorrisinhos de proveniência misteriosa. Vou fazer as unhas e repicar o cabelo. Nesse dia, você vai notar e ter certeza que me perdeu.

Comecei com os sorrisinhos misteriosos apenas para responder com cumplicidade ao meu pensamento, e, dito e feito: você notou. Aparentou-se nervosa e me beijou fora de hora, com força e desespero, como se fosse a última vez. Quis dizer que me ama, eu senti. Eu quis dizer o mesmo. Pensei se essa pose que eu pretendia fazer não era só pra te chamar a atenção, para que você o largasse e, então, fosse só minha. Quis te pedir isso em voz alta, pela primeira vez. Quase te chamei pra jantar. E, com o mesmo desespero com que veio, você foi.

Saí no mesmo horário de sempre, tentando não pensar no que acabara de acontecer. Concentrei meus pensamentos na imagem dos meus olhinhos brilhando como os de Lília Cabral, mas com trinta anos a menos. A mudança deve ser por mim, não por ela. Respirei fundo. Contemplei as luzes da cidade, ouvindo Ana Carolina na minha cabeça e pensando em todas as possibilidades que, até então, eu estava deixando passar. 
Antes que eu chegasse na esquina pronta pra mudar de rumo esta noite, quatro mãos me pegaram com força e me imobilizaram imediatamente. Não vi nenhum rosto, apenas as mãos - masculinas, é claro. O que poderiam ter feito comigo, eu não sei. Dois faróis nos cegaram quase imediatamente. Os homens me jogaram e eu caí num pedaço de espaço mal aproveitado entre duas imponentes paredes de construções apodrecendo. As calças jeanme salvaram de ralar mais o joelho, mas um jato da mistura de água da chuva esquecida e esgoto conseguiu atingir meu rosto. E isso fede.